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Na tarde da última terça-feira, dia 15 de setembro, uma das conferências simultâneas realizadas dentro da programação do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades, foi com o Prof. Dr. Benilton Bezerra Júnior, da UERJ. O tema por ele desenvolvido foi “Narrativas de Deus, e a transcendência hoje: uma abordagem a partir da psicanálise”.
Benilton Bezerra abriu sua conferência colocando aos presentes que a psicanálise possui diversas visões diferentes sobre o lugar da experiência religiosa na vida dos sujeitos enquanto indivíduos. No entanto, a questão da transcendência é crucial em todas elas. O professor escolheu abordar duas visões principais dentro da psicanálise: a de Sigmund Freud e a de Donald Winnicott.
Segundo Bezerra, para Freud, a religião é uma grande defesa do sujeito. “Por que os seres humanos inventaram um Deus? Por causa da sua precariedade ontológica”. Essa é a visão do pai da Psicanálise, que acreditava que o ser humano é marcado pelo desamparo, pela pequenez diante dos desafios da vida. Inclusive a experiência entre os humanos seria marcada pela decepção, pelo ódio. Por isso o ser humano cria o sagrado, para se defender. “Deus seria a projeção de nossas fraquezas e fantasias, a resposta para o nosso desamparo diante dos desafios que a morte e a finitude nos colocam. A religião também seria uma maneira de controlar os impulsos humanos”, explica Benilton. No entanto, ele enfatiza a importância de entender este pensamento de Freud com base em seu contexto pessoal: ele era um cientista ateu, judeu e anticlerical, e caracterizava a religião como uma grande neurose coletiva.
Em contraposição, o professor trouxe o pensamento do psicanalista inglês Donald Winnicott, para quem Deus está na ação criadora do ser humano enquanto sujeito. Para Winnicott a religião, o sentimento de sagrado é ativo e não reativo, como defendia Freud.
Ao entrar no debate sobre a questão da transcendência para a psicanálise, Bezerra defende que ela é ineliminável, da mesma forma como é para a religião. “Ninguém nasce sujeito. É preciso que o ser humano seja reflexivo de si próprio, da sua experiência, para que possua a condição de sujeito humano. E aqui a questão da linguagem é fundamental”, esclarece. Bezerra acrescenta que o papel do terceiro, do Outro, como disseminador da regra é fundamental do ponto de vista da transcendência. “É a alteridade, o Outro que me constitui como sujeito”. Porém, continua o professor, hoje a subjetividade humana tende a rejeitar o transcendente, que entra em uma crise de legitimidade. Por isso a dificuldade dos pais e professores em ter autoridade.
As causas para isso, segundo Benilton seriam o crepúsculo da grande política e sua transformação na administração de interesses individuais, esvaindo-se a ideia de cidadania em prol da ideia de consumo; a presença maciça do discurso científico; e a explosão das biotecnologias, fazendo com que a natureza não mais se oponha à cultura, por tornar-se (a natureza) um armazém de matérias primas.
Considerando este cenário pós-moderno, segue Bezerra, os desafios que se estabelecem podem ser identificados nas chamadas “religiões da prosperidade”, no fundamentalismo espalhado pelo mundo e na assimilação pelo mercado das práticas espirituais orientais.
O professor encerrou sua fala reconhecendo que todos temos dificuldades para lidar com as adversidades, por isso, colocamos os motivos de nossos problemas nas questões físicas, biológicas. “Ninguém mais suporta a dor e o sofrimento. Por isso querem remédio para tudo. E fazem a alegria da indústria farmacêutica”. O grande desafio, finaliza Bezerra, é saber como a religião pode abrir um horizonte de realização amplo.
Para saber mais sobre o tema, leia aqui a mais recente entrevista concedida pelo professor à IHU On-Line.
Fonte: UNISINOS