domingo, 17 de julho de 2011

Kierkegaard e Schopenhauer. Proximidades e rupturas

Natureza, arte, música são pontos que aproximam as filosofias de Søren Kierkegaard e Arthur Schopenhauer. A distância entre os pensadores se dá na maneira como veem Deus e compreendem alguns conceitos, além da percepção da existência, explica o teólogo e filósofo Deyve Redyson Melo dos Santos em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual Vale do Aracajú (UVA-CE) e em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), é mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e doutor em Filosofia pela Universidade de Oslo, na Noruega. Deyve é professor adjunto da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Pesquisa na área de Filosofia da Religião com ênfase em Schopenhauer, Feuerbach, Kierkegaard, Nietzsche, Cioran e Idealismo Alemão. Escreveu, entre outros, Dossiê Schopenhauer (São Paulo: Universo dos Livros, 2009) e A Filosofia de Søren Kierkegaard (Recife: Elógica, 2004). Membro do Grupo de Pesquisa sobre a obra de Kierkegaard (CNPq), é o atual presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Kierkegaard (Sobreski).



IHU On-Line - Quais são os pontos de contato entre liberdade e vontade em Kierkegaard e Schopenhauer?

Deyve Melo dos Santos - A vontade para Schopenhauer será um dos pontos principais de sua concepção de filosofia. Para ele, a vontade é a coisa em si kantiana, e esta é a resposta que nenhum pensador conseguiu alcançar. Já a liberdade é o caminho para o encontro de si mesmo, isto é, Schopenhauer entende a liberdade como a ação primordial que fará do homem um ser que possa interagir com o mundo, com as coisas e com os seres. Interessante é pensar essas duas teorias juntamente com o pensamento de Kierkegaard, que tinha em Schopenhauer um exemplo de pensador, que elabora as categorias da filosofia e se põe a respondê-las. Ainda existe muita coisa a ser dita sobre a relação do pensamento de Schopenhauer e Kierkegaard, seja sobre a natureza, sobre a arte, sobre a música. Eles estão bastante próximos um do outro.

IHU On-Line - Não existe um antagonismo entre liberdade e vontade?

Deyve Melo dos Santos - Existe, e o fato deste antagonismo existir faz com que tanto em Schopenhauer como em Kierkegaard vejamos quais os questionamentos que hoje podemos fazer perante os conceitos de liberdade e vontade, se somos livres no pensar, ou se nossa vontade é condição de podermos ser quem somos. Penso que refletir sobre liberdade e vontade compreende duas tarefas difíceis, mas de importância fundamental à filosofia de hoje.

IHU On-Line - Como podemos compreender essas conexões de pensamento tomando em consideração a distância teórica que tem como ponto de partida tais autores?

Deyve Melo dos Santos - Realmente existe uma certa distância entre nossos dois autores, mas essa distância está presente na forma de ver Deus, na forma de compreender determinados conceitos e finalmente na forma de percepção da existência. Tentar fazer uma aproximação entre Schopenhauer e Kierkegaard é uma tarefa de constatar que a subjetividade e a objetividade são terrenos férteis quando falamos de natureza, de existência, de amor, de ironia, de vontade e, principalmente, do mundo como representação. Quando Schopenhauer inicia sua obra O Mundo como vontade e como representação, afirmando que O mundo é minha representação, ele fundamenta o caráter objetivista de sua teoria e, de forma uníssona, se liga a Kierkegaard quando este pensa que o universo é dotado de grandes características, e uma delas é a vontade.

IHU On-Line - E com relação aos seus pontos de vista sobre a religião, como é possível entender a aproximação entre ambos?

Deyve Melo dos Santos - No modo de entender a religião, a fé e o próprio conceito de Deus, Schopenhauer e Kierkegaard caminham diferentemente. A preocupação de Kierkegaard é com a instituição estatal que quer fazer de toda uma nação cristã e luta em busca de uma verdadeira concepção de cristandade. Schopenhauer condena toda e qualquer formulação de fé que seja baseada numa pretensa vida em dogmas e obrigações para com o divino. Na verdade, podemos também fazer um paralelo entre estas duas formas de ver a fé, pois ver o mundo como o pior dos mundos possíveis, como Schopenhauer faz, somente nos leva a entender que este mundo é um mundo de sentidos.

IHU On-Line - Qual é a diferença entre a crítica que fazem a Hegel?

Deyve Melo dos Santos - Schopenhauer é acusado de fazer muitos insultos a Hegel, Schelling, Fichte. É verdade. Schopenhauer afirma que Hegel é um filosofastro, um charlatão e várias coisas mais. Também podemos encontrar críticas bem formuladas com relação ao sistema da ciência de Hegel, que somente encontra espaço no absoluto. A crítica de Schopenhauer a Hegel está centralmente localizada na ideia do absoluto e na forma com que esse absoluto chega no sistema hegeliano. A típica pergunta que para Schopenhauer, e a mais importante é: por que, na Ciência da Lógica, Hegel tem que começar com uma ideia de ser que não é o ser mesmo? ou o ser que podemos entender como ser? Kierkegaard segue o mesmo caminho: não aceita uma verdade absoluta, como Hegel quer entender no seu sistema. Kierkegaard acredita que Hegel nega a identidade de fundo irônico em Sócrates e por isso entendeu o mundo como universal. Para Kierkegaard, esta ironia como negatividade infinita absoluta é o eterno, isto é, a constituição máxima do real enquanto explicação dele mesmo. Interessante também é pensar o sistema da ciência de Hegel e de como sua influência fez com que tanto Schopenhauer e Kierkegaard estivessem tão próximos um do outro.

IHU On-Line - Como você entende as concepções de arte em Kierkegaard e Schopenhauer? Que aspectos apontam em comum e quais são as maiores rupturas?

Deyve Melo dos Santos - Em Schopenhauer, a arte e sua vinculação com a estética é o belo, que ele chama de metafísica do belo, que eleva a noção de beleza e arte até o conhecimento objetivo, isto é, um conhecimento estético. A arte, para Schopenhauer, juntamente com a música e a tragédia, são as mais belas formas de se compreender até mesmo o absoluto. Kierkegaard, em seu ensaio sobre o belo musical, também eleva a arte como a aspiração máxima do ser. As rupturas estão inseridas no contexto de suas obras, a identificação do ideal de arte ou da arte ideal, da beleza e de suas formas, da interpretação do gênio e do artista e, por fim, de toda uma série de conceitos que encontramos no conjunto de suas obras.

IHU On-Line - Enquanto presidente da SOBRESKI, qual é a sua percepção sobre os estudos de Kierkegaard no Brasil?

Deyve Melo dos Santos - Esta já é a X Jornada de Estudos sobre Kierkegaard, e cada vez mais vem aumentando o número de alunos de graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras que têm despertado interesse em estudar o pensamento de Kierkegaard. Hoje já é possível fazer uma leitura aprofundada na filosofia de Kierkegaard, pois, já se encontram traduzidas diversas de suas obras realizadas diretamente do dinamarquês para o português. Uma das coisas que mais contribuiu para uma leitura errada de Kierkegaard eram as deficientes traduções que tínhamos, que cometeram erros grosseiros e nos levaram a interpretações que fizeram de Kierkegaard um simples pensador. Com as traduções de O Conceito de Ironia, Migalhas Filosóficas, As Obras do Amor e o extenso volume traduzido por Ernani Reichmann na década de 1970, é possível uma leitura legítima de Kierkegaard. Com as traduções, vieram também estudos publicados em diversas editoras e universidades do país, livros como os de Alvaro Valls, Marcio Gimenes de Paula e Jonas Roos também revelam como Kierkegaard tem ainda muito a oferecer à filosofia de hoje. Outro grande passo que foi dado foi a formação do grupo brasileiro de estudos de Kierkegaard, a SOBRESKI, que anualmente se encontra para discutir, compartilhar e trocar ideias e informações sobre o pensador dinamarquês. Cada vez mais cresce o número de pesquisadores com mestrado e doutorado que efetivam suas contribuições em revistas especializadas em filosofia e apresentam comunicações em encontros e congressos dentro do país. Com a perspectiva de mais traduções irem aparecendo, mais estudos e a continuidade das reuniões anuais da SOBRESKI, o pensamento de Kierkegaard somente tenderá a crescer no Brasil.

domingo, 3 de julho de 2011

Stephen Cave

O significado de ser humano


Artigo do escritor e filósofo britânico Stephen Cave, com doutorado em metafísica pela Universidade de Cambridge. É autor de Immortality, que será publicado no ano que vem pela Random House.  Foi publicado no jornal Financial Times, 24-06-2011. A tradução é de Anne Ledur.
Fonte: UNISINOS


 
O que é a natureza humana? Um biólogo pode vê-la assim: os seres humanos são animais e, como todos os animais, consistem principalmente de um sistema digestivo para dentro do qual eles socam incansavelmente outros organismos - seja animais ou vegetais, assados ou crus -, a fim de alimentar suas tentativas de reproduzir esse tipo de onívoro ainda mais insaciável e autorreplicante. Os fundamentos da natureza humana, portanto, são a busca de comida e sexo.

Mas isso, o biólogo acrescentaria, é apenas metade da história. O que torna a natureza humana distinta é o atributo particular que o Homo sapiens usa para caçar presas e atrair parceiros potenciais. Tigres têm força, guepardos têm velocidade. Os seres humanos têm algo menos obviamente útil: cérebros estranhamente grandes. Isso faz deles terrivelmente criativos na aquisição de outros organismos para consumir - e, de fato, na forma de prepará-los (que outros animais servem cordon bleu à sua presa?) -, e também mais indiretos em suas estratégias reprodutivas (compõem sonetos, por exemplo, ou inventam passos de dança).

A natureza humana - a predileção por política e guerra, indústria e arte - é, portanto, apenas uma forma especialmente inteligente que os seres humanos desenvolveram para resolver problemas de comer e se reproduzir. Assim, os biólogos acreditam que, uma vez que entenderem o cérebro humano e sua história evolutiva, saberão tudo o que precisam sobre esse tipo ubíquo de macaco.

Ver-nos assim é uma forma de "reducionismo", uma vez que simplifica a complexidade da consciência humana e da sociedade para o funcionamento dos genes e das células do cérebro. Reduzir a maravilha religiosa, a sensibilidade poética e a riqueza da vida social a meros instintos animais parece ser uma caricatura. E esse ainda é o balanço dominante do que é ser humano no início do século XXI.

Assim, hoje os jornais estão cheios de histórias de genes para isto e neurônios para aquilo. Exemplos recentes variam de "O Gene da Infidelidade: um em cada quatro nasceu para ser infiel" para "Cientistas revelam as células do cérebro dedicadas a Jennifer Aniston". Em parte, a visão de mundo reducionista está ganhando prevalência, porque muitas das suas afirmações são verdadeiras: a teoria da evolução está agora firmemente estabelecida, nosso genoma está sendo decifrado e existem indiscutíveis correlações entre a consciência e a atividade cerebral. Mas um problema surge quando os cientistas, os políticos ou os meios de comunicação adotam essa perspectiva biológica na busca de soluções simples para problemas complexos, culpando a crise de crédito, por exemplo, na mentalidade de curto prazo herdada de nossos ancestrais primatas. Alguns pensadores estão, portanto, rebelando-se contra o consenso reducionista.

É claro, aqueles com uma perspectiva fortemente religiosa, muitas vezes a rejeitam completamente. Mas, mesmo pensadores seculares estão cada vez mais resistindo à sua pretensão de ter toda a verdade. Embora alguns vão longe demais com seus ataques - argumentando erroneamente, por exemplo, que não temos nada para aprender sobre nós mesmos com nossa história evolutiva -, tais críticos estão, no entanto, certos em apontar que, ao aceitar a visão reducionista, corremos o risco de fazermos um desserviço perigoso.

Neuromania x Darwinitis

Uma das maiores vozes é Raymond Tallis, filósofo, ex-professor de medicina geriátrica e escritor prolífico. Seu último livro, Aping Mankind: Neuromania, Darwinitis and the Misrepresentation of Humanity, é um ataque total às afirmações exageradas feitas em nome das ciências biológicas.

"Neuromania" é o termo que Tallis utiliza para simplificar todos os aspectos da mente e do comportamento para as descargas de células microscópicas cerebrais; enquanto que "Darwinitis" refere-se à outra vertente de reducionismo biológico, explicando todos os aspectos do nosso comportamento em termos de nossa história evolutiva e/ou os genes que codificam isso. Seu ataque a ambos é duplo: primeiro, ele critica, de forma extremamente rude, muitas das experiências específicas e suas hipóteses e, em segundo lugar, argumenta que o projeto reducionista é, de todas as formas, filosoficamente equivocado.

Suas críticas à prática do reducionismo são, muitas vezes, justificadas: um pesquisador, por exemplo, afirmou ter identificado o centro do cérebro para amor romântico gravando a diferença na atividade neural de indivíduos quando expostos a imagens de pessoas pelas quais eles estavam apaixonados e pessoas que eram meros amigos. Isso parece ingênuo - o que significa estar "apaixonado" não é definido por quais neurônios disparam quando olhamos para uma foto. Quando eu olho para uma imagem de minha amada, sou mais propenso a me perguntar o que ela quer para o jantar do que a refletir sobre a plenitude do nosso amor.

Mas essas experiências são engolidas pela mídia e foram influentes em toda a área de Humanas, onde explicações evolutivas para tudo estão cada vez mais na moda - desde a liberdade de expressão até belas artes. Tallis, que se esforça para salientar que concorda com o darwinismo - ele não é um armário criacionista - está em um terreno forte quando argumenta que a aplicação bruta do reducionismo biológico vai esclarecer pouco sobre como reformar o serviço de saúde ou como ler Ulisses, de James Joyce.

Mas a sua posição torna-se muito mais frágil quando se move para a mais ampla filosofia. Ele argumenta longamente, por exemplo, que a mente não pode nem mesmo, em princípio, ser reduzida ao funcionamento de nosso cérebro sozinha. Essa é uma opinião respeitável, embora sustentada por uma minoria dos que foram pagos para pensar sobre essas questões. A maioria dos filósofos e cientistas acreditam no oposto: que a mente é apenas o produto de uma certa atividade cerebral, mesmo que atualmente não saibamos bem qual. Tallis, portanto, faz uma injustiça, tanto ao leitor quanto a esses pensadores, ao descrever a posição de seus oponentes como "obviamente" erradas, acusando seus erros de "elementares". Sua própria incapacidade de fornecer uma explicação alternativa convincente da mente mostra que esse é um assunto sobre o qual pessoas razoáveis ​​podem diferir sem inclinar-se a insultos.

Mas, embora a maior parte do conteúdo teórico de Aping Mankind não seja convincente - ao que se poderia acrescentar que o livro tem o dobro do tamanho que precisaria ter e é de um tom desagradável e grosseiro - ele é, no entanto, um trabalho importante. Tallis está correto ao apontar que uma mudança fundamental na nossa autopercepção está em curso e, muitas vezes, vai longe demais.

Ciências da vida

No entanto, é possível questionar esses desenvolvimentos de uma forma mais comedida, como mostrado em Genes Naked: Reinventing the Human Molecular Age, de autoria de Helga Nowotny, socióloga, e do biólogo Giuseppe Testa. Seu livro é uma análise sutil e sofisticada de como as ciências da vida estão mudando a nossa visão de nós mesmos e os desafios que estão se apresentando.

O título deriva de uma simples, mas reveladora observação que é o papel das ciências de "tornar visíveis as coisas que antes não poderiam ser vistas". Até muito recentemente, não tínhamos ideia de como a hereditariedade funcionou. Agora, nossos genes são revelados a nós. Quando a tecnologia faz algum processo visível pela primeira vez, os cientistas tentam isolar o que vêem, extraindo-o do seu contexto, para poder compreender a sua natureza melhor. O resultado, afirmam Nowotny e Testa, é que eles tendem a atribuir inicialmente demasiada importância a esses processos e subestimam outros fatores - em outras palavras, o reducionismo.

Esta parece ser uma explicação perfeita da "Darwinitis" e da "Neuromania" de Tallis. Assim como nossos genes estão sendo revelados, a nova tecnologia está nos permitindo, pela primeira vez, perscrutar nosso cérebro vivo. Mas, em uma tentativa de compreender o que estão vendo, os cientistas dão um peso desproporcional a essas imagens indistintas. Com o tempo, no entanto, um contra-movimento vai querer ver as entidades recém-reveladas - genes ou células cerebrais - em um contexto mais amplo. Assim, a polêmica de Tallis, em Aping Mankind, poderá ser vista como esse contra-movimento em ação.

Nowotny e Testa exploram vários estudos de caso em que as revelações da biologia estão desafiando a nossa auto-imagem: por exemplo, no debate em torno do doping no esporte. Eles argumentam que a diferença entre o natural (os genes com que nascemos, a comida e o treinamento) e o artificial (drogas, engenharia genética e próteses) é uma ficção, e é insustentável. Assim, a ideia de uma "igualdade de condições" para os concorrentes é, em si, uma ficção: algumas pessoas nascem com genes que as tornam melhores atletas. O que é esse "nível"? Engenharia genética, uma tecnologia frequentemente compreendida como "não natural", poderia, em nível de teoria, nivelar tal desigualdade.

Mas Nowotny e Testa não oferecem respostas para estas perguntas - eles simplesmente as exploram, expondo tensões subjacentes e ironias. Sua principal conclusão é de que precisamos de instituições que sejam flexíveis o suficiente para lidar tanto com ideias sobre a nossa natureza e também diversas, e evoluindo atitudes públicas (citando a Autoridade de Embriologia e Fertilização Humana do Reino Unido, por exemplo). Essas instituições devem apoiar os cidadãos a fazer escolhas autônomas, argumentam eles, caso em que estão otimistas de que novos desenvolvimentos em ciência e tecnologia podem "dar poder ao indivíduo criativo".

Humanos como máquinas

Essa é uma visão compartilhada por Brian Christian, em seu excelente primeiro livro The Most Human Human: A Defence of Humanity in the Age of the Computer. O ponto de vista reducionista sugere que somos apenas máquinas biológicas; e, sendo assim, então todos e quaisquer de nossas capacidades devem ser alcançadas por outros tipos de máquina, tais como computadores. Essa é a opinião de muitos na comunidade científica e tecnologia, e um bom número está na corrida para construir a primeira máquina verdadeiramente inteligente e provar a teoria.

O teste convencional de se um computador pode pensar como um ser humano ficou conhecido como Teste de Turing, devido ao pioneiro em computação, o inglês Alan Turing, que criou a prova na década de 1950. É simplesmente isto: um assessor conversa em separado, geralmente através de um terminal remoto, com um ser humano e com uma máquina. Se o assessor não pode dizer qual é qual, a máquina passou no teste - algo que nunca aconteceu ainda. Um ajuste anual do Teste de Turing, chamado Prêmio Loebner - por causa de seu patrocinador, Hugh Loebner - fornece o brilhante conceito para o livro de Christian.

A configuração é esta: Christian faz parte do Prêmio Loebner como um dos seres humanos que vão contra as máquinas. Se um exator é enganado e acredita que um dos computadores é o ser humano, isto equivale a dizer que o computador é mais humano do que o próprio Christian. Esse não é um desafio que o autor toma resignado: na verdade, é a plataforma de lançamento para uma explicação fascinante do que significa ser humano e como Christian, em face da forte concorrência da melhor inteligência artificial do mundo, pode provar que seu artigo é genuíno.

Ao longo do livro, ele explora as ideias de autenticidade, humor, espontaneidade e originalidade. Em um capítulo perspicaz, ele observa que só pode ser substituído por máquinas, se tivermos primeiro nos permitido ser como elas. Uma vez, por exemplo, que tenhamos abandonado contatos locais em nome de distantes e homogêneos call centers, compostos por trabalhadores os quais não têm espaço para a responsabilidade ou a criatividade, então é só uma questão de tempo antes que os próprios trabalhadores, que são treinados para agir como robôs, serem substituídos por eles.

Todos os três livros, diferentes como são, apontam para a mesma conclusão: que não precisamos nos permitir ser reduzidos por essas novas e poderosas disciplinas da genética, neurociência e computação. Em vez disso, podemos aprender com elas e assimilá-las em uma compreensão mais ampla de nós mesmos. Podemos, de fato, usá-las para se tornar melhores como seres humanos.

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