sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Colóquio de Filosofia "O Olhar e o Rosto"

Consumismo, violências e uso de drogas: os riscos do neoliberalismo1

Marta Conte2 (martacte@terra.com.br)

RESUMO: Este trabalho analisa as violências e o uso de drogas associados, entre outros aspectos, aos efeitos do consumismo próprio do neoliberalismo, com conseqüências importantes sobre as condições subjetivas no laço social. O neoliberalismo é entendido como um novo sistema econômico iníquo, herança do velho capitalismo. Os dados utilizados para análise do tema foram colhidos durante a pesquisa Criminalidade e espaço urbano:as transversalidades da violência (2004)3, na qual se entrevistaram apenados de Novo Hamburgo e São Leopoldo, individualmente e através de grupo de discussão, utilizando a perspectiva transdisciplinar de pesquisa. Como efeitos deste contexto neoliberal sobre as subjetividades evidencia-se o enfraquecimento nas trocas humanas afetadas pela dessimbolização. Fonte: Revista Filosofia Unisinos,Volume 7,nº3



O contemporâneo e os processos de subjetivação


Para situar o contexto contemporâneo e suas influências sobre os processos de subjetivação, ressalta-se que a sociedade pós-moderna tem sido análise de filósofos como Lipovetski (1983), Gauchet (2002), Dufour (2005), ou de psicanalistas como Chemama (2002), Melman (2003) e Lebrun (2004).

A análise que decorre de debates atuais indica que com o triunfo do neoliberalismo um novo modo de civilização se impôs, cujo slogan se traduz em SER FELIZ PELO CONSUMO! ou “gozar a qualquer custo”. O modo de civilização anterior a este da modernidade era marcado pela poupança, sobriedade, valores como virtude e solidariedade, pela ordem e o recalcamento. Cabe lembrar que, há poucas décadas, falar em gozo individual era tabu; hoje, é um imperativo.

O argumento do Colóquio “O Olhar e o Rosto” situa que a intersecção entre o olhar e a fala produz efeitos sociais e subjetivos que colocam novas interrogações para o sujeito moderno. O império das imagens, como é caracterizado o contemporâneo, remete ao narcisismo, à frouxidão ética e da capacidade crítica, ao individualismo, à exposição da interioridade, à transformação do público e do privado, à fragilização do sentido comum dos limites e de referências, dificultando o estabelecimento de uma hierarquia de valores pautados pelo ser, aos enunciados impessoalizados que ditam verdades, desconsiderando as variações singulares e as saídas sociais.

Apesar de se falar em consumismo nos séculos XVII, XVIII e XIX, o sentido era completamente diferente do conceito moderno (Costa, 2004), sendo necessário analisar o fenômeno do consumismo moderno, entendido a partir das circunstâncias históricas do final do século XX e início do século XXI.

Com a cultura burguesa, refere Costa (2004) ao analisar as idéias de Senett, é possível entender o consumo na perspectiva psicológica e cultural expresso no culto ao intimismo e à personalidade. O progresso das técnicas de fabricação do vidro favoreceu o surgimento das grandes vitrines e das estratégias de venda, dando ampla visibilidade aos produtos. O núcleo da personalidade, nesse contexto, estava tanto no interior sentimental quanto nos objetos comprados e exibidos. O indivíduo projetava suas peculiaridades emocionais nas mercadorias e, em seguida, adquiria-as como se fizessem parte de seu caráter permanente e interior. E, assim, o “comprismo” burguês desnudou o modo de produção material das crenças emocionais. Portanto, é possível dizer que o consumismo surge como meio de construção de identidades; tanto mais poder os objetos adquirem quanto mais o interior subjetivo está esvaziado e exteriorizado.

O imperativo de felicidade é incrementado pelo dever de não sofrimento, de não mais se entusiasmar com ideais comunitários, mais sim com a normalização do desejo, e tudo isto em detrimento das diferentes formas de exploração do inconsciente. Mas, diz Roudinesco (2000), o inconsciente ressurge no corpo, nos acting outs e passagens ao ato.

O fenômeno do consumismo, lembrando Freud (1974) em o Mal-estar na civilização, de 1930, coaduna com a forma de existência narcísica. O consumismo situa-se como central no debate sobre as transformações contemporâneas, pois princípios e valores foram se configurando e alterando conceitos como felicidade e relações de trocas, produzindo novos efeitos nas construções identitárias. Essas modificações se estendem de forma ampla às relações de trabalho, aos espaços urbanos, à relação com o corpo, ao convívio social, às formas de comunicação e às configurações familiares, entre outros aspectos. Como conseqüência surgem novos arranjos psíquicos incrementando às subjetividades excessos e desamparos.

Lacan (1998) propõe que o sujeito recebe sua mensagem do Outro sob uma forma invertida; no entanto, uma das condições da subjetividade moderna é que o sujeito recebe sua mensagem não mais do Outro, mas da informação, que é simples e direta, não necessitando mais uma mediação e uma interpretação do que o Outro poderia querer de nós. A informação designa, assim, o bom objeto, aquele capaz de nos satisfazer e que não é mais um semblante de objeto, e sim um objeto bem real. Assim, o interesse pelos objetos não é mais construído pelo caminho da falta, diz Melman (2003, p. 137), pois o que o torna desejável é que ele tem propriedades excitantes e que podem ser exibidos visando estabelecer sociabilidades.

Estes vários aspectos nos convocam à análise do simbólico, e para isto encontro em Dufour (2005) importantes contribuições, no livro a Arte de reduzir cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal. Ele refere que a esfera de aplicação do modelo de mercado está destinada a se expandir bem além do domínio da troca mercadológica, alterando e enfraquecendo o simbólico nas trocas humanas. Convém aqui retomar Mauss, através de Lacan (1998), ao indicar que quando as estruturas sociais são reais, os atos serão simbólicos, e estes precisam de deciframento.

Dufour (2005) constata que há uma mutação antropológica em curso e a emergência de um outro tipo de sujeito e de relações de troca. A mais radical conseqüência é a dessimbolização, com afetações na língua e nos modos de falar. Constatam-se desde até a troca de nomes de estabelecimentos e de produtos, para que não carreguem valor cultural, para tornar-se um produto como qualquer outro, isto é, uma mercadoria que pode ser trocada por outras no seu valor de mercadoria, perdendo o essencial de seu valor simbólico. A dessimbolização é uma conseqüência, então, do utilitarismo contemporâneo, que pretende “tirar a gordura” simbólica das trocas, perseguindo a fluidez, a circulação e a renovação do mercado, sem conciliação com o peso histórico dos valores culturais.

O mesmo autor situa três dimensões da dessimbolização: venal, geracional e niilista. A primeira, a dessimbolização venal, verifica-se no fato de que tudo vira mercadoria e o dinheiro é só dinheiro, como equivalente universal, símbolo da redução de todos os valores exclusivamente ao valor bancário. Este aspecto contribui para a passagem do sujeito ao estatuto de consumidor, no cortejo às mercadorias em concorrência selvagem uns com os outros. Trata-se das condições necessárias para a consolidação de uma sociedade de risco, como propõem Giddens et al. (1997). A criminalidade é um risco que incorrem aqueles que levam o liberalismo ao pé da letra”, indica-nos Dufour (2005, p. 203).

A segunda dessimbolização é geracional, verificando-se na falta do legado de um patrimônio cultural através da família, da escola e das instituições que se ocupam das crianças e jovens. Tomo como exemplo o descrédito no futuro e a idéia de “sem saída”, partilhada por diferentes instâncias que se ocupam dos jovens em nosso país e impedem as apostas, criando um curto-circuíto. A juventude sem perspectiva de inserção social no mercado de trabalho e em outras formas culturais de testemunhos compartilhados se vê à deriva e impulsionada a atos de delinqüência e consumo de drogas, como apelos a uma alteridade que se presentifique e ofereça ancoragem, bordas, referências. Assim, considera-se que os atos de delinqüência e consumo de drogas, especialmente na adolescência, portam em si uma significação simbólica de serem a única forma de ter acesso ao que conta para o sujeito, e desta forma exigem um trabalho de deciframento, como está indicado acima relativamente às formulações de Mauss (Lacan, 1998) em uma prática clínica ampliada.

E a terceira dessimbolização proposta por Dufour (2005) é a niilista, decorrente das duas anteriores. Com o enfraquecimento do Estado na gestão de políticas públicas, emerge uma forma de dominação anônima, “uma tirania sem tirano”, nas palavras de Arendt, analisadas por Dufour, produzindo um abandono e a violência reativa dele decorrente.

O que o neoliberalismo visa hoje é justamente o núcleo primeiro da humanidade: a dependência simbólica do homem, tornando-o indivíduo dócil, liberal, precário, instável, aberto a todos os modos de dependência e às variações de mercado liberal remete a liberado de toda ligação a valores (Dufour, 2005, p200) e livre de toda vinculação cultural. Até porque os valores morais não têm valor mercadológico e, além disto, constituem uma possibilidade de resistência ao consumo e à propaganda publicitária. Não são surpreendentes a transposição da relação com o desejo para as inúmeras formas de compulsão e a escalada da violência comum, pontuada por momentos de hiperviolência. Isto se fundamenta no fato de que a lógica neoliberal produz sujeitos que funcionam precisamente segundo a lei do mais forte ou a do “empoderamento” pelos objetos.

E parece haver um consentimento velado entre governantes e as máfias de todo gênero que se expandem como formas sociais (Dufour, 2005, p. 199). Tomando como exemplo o PCC observa-se sua força pela atuação de grupos organizados dentro da prisão e pela ideologia voltada a atacar o simbólico, ao desestabilizar os serviços públicos ligados à segurança, os transportes urbanos e a rede financeira. Outro aspecto que indica a força destas formas sociais é a reserva de mercado para a produção de dinheiro com a droga, a prostituição, as armas, apoiadas por influências políticas.

Na medida em que a garantia simbólica das trocas entre os homens tende a desaparecer, é a própria condição humana que muda, e o valor da vida fica em questão; um se relaciona com o outro enquanto objeto. Esta objetalização e utilitarismo passam a fazer parte do cotidiano de todo cidadão, produzindo relações de desrespeito e violências de toda ordem. Criam-se, assim, as condições para o elogio da delinqüência e a recusa de escolhas éticas que obriguem a tomada de uma posição responsável frente aos próprios atos.

A sociedade neoliberal quer banir de seu horizonte os efeitos que ela própria engendra, a saber, as conseqüências das desigualdades sociais, do consumismo, dos excessos, das violências e de conflitos sociais, produzindo movimentos de reformas que não oferecem inscrição social às conseqüências do sistema sociopolítico, mantendo enormes segmentos da população à margem dos direitos fundamentais e do acesso a bens e serviços. Ao serem banidos da cena pública, esses fenômenos, freqüentemente, aparecem como ameaças, descontextualizadas de uma rede complexa de fatores econômicos, políticos, subjetivos e ligados aos ideais sociais de consumo (Conte, 2005).

Alguns autores conceituam determinadas manifestações sociais como “restos sociais” (Giddens et al., 1997), indicando que o que é percebido como ameaça, na verdade, é risco produzido e deve ser calculado como conseqüência do laço social. Trago algumas falas que ilustram a dessimbolização subjetiva e a redução da cidadania a uma “embalagem”, como apresenta o depoimento de um apenado de São Leopoldo. Ele diz: Isso aí é só embalagem, mas é que a gente se compara, o fulano tem e eu não tenho, principalmente no meio de adolescentes, né. Nessa idade a gente deixa se levar pelos bens materiais. O meu amigo tem, o pai dela dá, e eu não tenho o meu pai pra me dar, então quem vai ter que fazer por mim sou eu mesmo, e a maneira mais rápida que eu tenho é cometendo algum delito (Apenado do regime semi aberto que participou do Grupo de Discussão).

Verifica-se no depoimento que, especialmente na adolescência, as “embalagens” respondem à necessidade de dar a ver-se, colocar-se no foco do olhar do outro, fabricar não importa com que meios o rosto com o qual se gostaria de ser visto. Os adolescentes vêem-se tensionados entre a imensa oferta de bens a consumir e as precárias condições para sua aquisição. As “embalagens” aqui, no termo utilizado pelo apenado, servem como forma de inclusão social servindo de dispositivos de atalho na via da mobilidade social (Oliveira, 2001). O delito no contexto de uma adolescência “exacerbada” e fora-de-lugar têm a expressão de uma autonomia reativa, de auto-afirmação individualista, narcisista e, muitas vezes, predatória.

A oferta do mercado, longe de dar acesso aos desejos, é ouvida como uma ordem irrefutável, um dever a consumir, e este é o sentido da fala a seguir:

[...] com certeza, se tu vai roubar, tu vai pegar, vamos fazer um exemplo, uns 40 mil... é dinheiro, né, tu vai comprar o que tu necessita... Vai sobrar um dinheiro pra ti; qual é o cara que não vai querer um tênis bonito, uma calça, ficar bem arrumado, perfumado? Já vai, dá uma olhada e vai comprar um carrinho pra ti, é onde tu te emociona. Tu tem um monte de dinheiro, tu não vai tirar um fuca, uma bici, com certeza que não, tu vai comprar um Tempra, um Vectra, um carro bonito, um som bonito, e aí, com certeza, um já vê e já sai comentário em toda a vila. Porque um trabalhador não tá assim... um trabalhador tá ganhando 240 real por mês, e se tu tem que tirar uns 700, 800 reais para o último lançamento da Nike, da onde é que tu vai tirar? (Apenado do regime semi-aberto, participante do Grupo de Discussão).

No entanto, a criminalidade se estende para as várias classes sociais, e a este respeito Costa (2004) refere que o aumento da criminalidade urbana não se deve apenas ao apetite irracional dos mais pobres por superfluidades que não podem comprar. Eles se apropriam violentamente dos bens materiais daqueles julgados privilegiados, assim como os cidadãos pacatos se apropriam imaginariamente dos corpos celebrizados. E todos querem reconhecimento, ascensão e um lugar social.

O que fica silenciado no laço e no discurso social é a violência dos imperativos sociais de consumo, assim como o fato de que o uso de drogas e a relação com o tráfico respondem a uma lógica de consumo, têm uma função social de anestesiamento do mal-estar social, assim como criam a ilusão de felicidade, construção identitária, pertencimento e mobilidade social.

Considerações finais

Deixa-se, pois, em relevo que a miséria simbólica, transmitida pela dessimbolização atestada no contemporâneo, tem peso fundamental nas construções identitárias e no estilo de vida que estão sendo construídos em torno do consumismo, das drogas e da criminalidade na sociedade brasileira. Torna-se fundamental problematizar a dessimbolização, identificando com precisão as diferentes formas de que ela se reveste.

Para finalizar, aposta-se nas práticas democráticas, na participação social, nas terapêuticas pela palavra e na função do testemunho como experiência compartilhada. Testemunhar é tentar produzir significação para a catástrofe do homem moderno (Costa, 2001). Ainda, acompanhamos o que nos propõe Dufour (2005), que chama a atenção para a resistência através da recusa a mercantilização do mundo e dos sujeitos, e por uma recusa vigorosa da superioridade do objeto sobre a palavra.


Notas

1 Este trabalho foi apresentado no IX Colóquio de Filosofia, ocorrido em 17 e 18 de agosto de 2006, em São Leopoldo, na UNISINOS.
2 Doutora em Psicologia Clínica, professora e pesquisadora do Mestrado em Psicologia Clínica da UNISINOS.
3 Esta pesquisa foi desenvolvida pelo Grupo de Estudos Transdisciplinares sobre a Violência da UNISINOS.

Referências

CHEMAMA, R. 2002. Elementos lacanianos para uma psicanálise no cotidiano. Porto
Alegre, CMC Editora, 347 p.
CONTE, M. 2005. A complexidade das relações entre violência, drogas e laço social. In: F. HARTMANN (org.), Violências e contemporaneidade, Porto Alegre, Artes e Ofícios, p. 81-88.
COSTA, A. 2001. Corpo e escrita: relações entre memória e transmissão da experiência. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 168 p.
COSTA, J. 2004. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro, Garamond, 242 p.
DUFOUR, D.-R. 2005. A arte de reduzir cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 211 p.
FREUD, S. 1974. O mal-estar na civilização. In: S. FREUD, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago Editora, p. 75-171.
GAUCHET, M. 2002. La democratie contre elle-même. Paris, Gallimard, 385 p.
GIDDENS, A.; BECK, U. e LASH, S. 1997. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo, Editora UNESP, 264 p.
LACAN, C. 1998. Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 937 p.
LEBRUN, J.P. 2004. Um mundo sem limite: ensaio para uma clínica psicanalítica do social. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 214 p.
LIPOVTSKY, G. 1983. L’ère de vide: essais sur l’individualisme contemporain. Paris, Gallimard, 143 p.
MELMAN, C. 2003. O homem sem gravidade. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 211 p.
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HENN, R.; OLIVEIRA, C. S.; WOLFF, M.P.; CONTE, M MENEGHEL.S. e FABRES, T. 2004. Criminalidade e espaço urbano: as transversalidades da violência. São Leopoldo, RS. Relatório de pesquisa. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, 15 p.
ROUDINESCO, E. 2000. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 163 p. 286




quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Karl Marx

MAQUINARIA E TRABALHO VIVO (Os Efeitos da Mecanização Sobre o Trabalhador)(1)

Fonte: Revista Crítica Marxista nº 1


Duas são as questões que temos a examinar. Primeira, em que medida se distinguem os efeitos da maquinaria daqueles da divisão do trabalho e da cooperação simples. Segunda, os efeitos da maquinaria sobre os trabalhadores que ela mesma elimina e substitui.

É a forma social de toda combinação do trabalho o fator característico geral do desenvolvimento da produção capitalista; característica que abrevia o tempo necessário para a produção de mercadorias, ao mesmo tempo em que diminui a massa de trabalhadores (assim como da mais-valia) para um quantum determinado de mercadorias produzidas. Mas é apenas na maquinaria, e no emprego do novo sistema de máquinas sobre o qual se funda a mecanização das oficinas, que a substituição do trabalhador por uma parte do capital constante (aquela parte do produto do trabalho que se toma novamente meio de trabalho) se coloca, produzindo genericamente um excedente de trabalhadores como tendência expressa e apreensível, que atua e se estabelece em larga escala. O trabalho passado surge aqui como meio para substituir o trabalho vivo ou como aquele meio de fazer diminuir o número de trabalhadores. Esta diminuição do trabalho humano aparece como especulação capitalista, como meio para aumentar a mais-valia.

De fato, isso só tem lugar na medida em que na maquinaria as mercadorias produzidas existem tanto como meio de subsistência para o consumo do próprio trabalhador, quanto como aqueles elementos para a formação e reprodução de sua capacidade de trabalho (Arbeitsvermogens)(2). Assim, o valor individual das mercadorias produzidas pela introdução geral da maquinaria põe-se diferentemente de seu valor social, e os capitalistas tomados isoladamente apropriam-se da parte referente a esta diferença. Aqui aparece a tendência geral da produção capitalista tomada em todos os seus ramos produtivos: o trabalho humano substituído pela máquina.

É primeiramente junto à maquinaria que o trabalhador luta de imediato contra a força produtiva desenvolvida pelo capital como sendo aquele princípio antagônico fundado no trabalhador mesmo - o trabalho vivo. A destruição das máquinas e a oposição geral, por parte dos trabalhadores, à introdução da maquinaria é a primeira expressão esclarecida de luta contra a produção capitalista desenvolvida, tanto como modo, quanto como meio de produção. Nada há que se assemelhe a isto na cooperação simples e na divisão do trabalho. Ao contrário, a divisão do trabalho no interior da manufatura reproduzia de forma mais ou menos geral a divisão de trabalho entre os diferentes ofícios. A única oposição que aqui encontramos, no que diz respeito às corporações e às organizações medievais do trabalho, é a proibição do emprego, por parte de um único mestre artesão, de um número excedente de trabalhadores àquele estabelecido; e, em geral, ao simples comerciante, que não era mestre, a proibição em utilizar-se de trabalhadores. Esta oposição estava instintivamente voltada contra o fundamento geral sobre o qual teve lugar a transição da forma artesanal para o modo de produção capitalista, da mesma forma que voltada contra a cooperação de muitos trabalhadores sob um único mestre e contra a produção em massa, sem que as forças sociais do trabalho (incluindo sua depreciação) que essa produção em massa desenvolve, ou ainda a substituição do trabalho vivo pelo produto do trabalho passado (vergangner Arbeit), pudessem já ser aqui conscientemente apreendidas.

A divisão do trabalho e a cooperação simples nunca se baseiam imediatamente na substituição do trabalho ou na criação de um excedente de trabalhadores; por um lado, sua base é a concentração destes e, por outro, a formação de uma maquinaria viva ou um sistema de máquinas vivas intermediado por este mesmo conglomerado. Em todo caso, porém, um excedente relativo de trabalho é produzido.

Por exemplo, numa manufatura fundada na divisão do trabalho, na qual trinta mecânicos trabalham "x" vezes produzindo mais fechaduras do que trinta serralheiros independentes poderiam produzir, estes últimos deixariam de ser independentes justamente ali onde nasce a concorrência com a manufatura - desalojados que seriam por ela -, da mesma forma que o crescimento da pro dução de fechaduras não se poria mais como antes, proporcionalmente ao crescimento do número de serralheiros independentes. Isto aparece antes como a transformação dos mestres de ofício e seus aprendizes em capitalistas e trabalhadores assalariados do que como a supressão do trabalhador assalariado pelo emprego do capital e da ciência.

Esta última forma aparece ainda em menor proporção do que a própria manufatura, de presença apenas esporádica, pois se coloca como anterior à invenção da maquinaria, de modo algum capaz de compreender a totalidade dos ramos, mas aparecendo simultaneamente ao primeiro desenvolvimento do trabalho industrial em larga escala, e coincidindo com as necessidades fundadas neste último. As manufaturas posteriores, que se desenvolvem tendo por base a própria máquina, tomam-na por pressuposto, ainda que o emprego da maquinaria tenha uma dimensão apenas parcial. O pressuposto desta forma é o excedente de população formado e continuamente renovado sob a maquinaria.

Por isso pôde Adam Smith notar como sendo expressões de caráter idêntico: a divisão do trabalho no interior da manufatura e o aumento do número de trabalhadores.

Portanto, a forma fundamental segue sendo: o número relativo de trabalhadores que a produção de um determinado quantum de mercadorias exige diminui em função do trabalho em larga escala, e este mesmo número de trabalhadores é capaz de elevar ainda mais sua produtividade - o que faz decair relativamente, por conseguinte, a demanda de trabalho para uma expansão da produção. Porém, ao mesmo tempo, mais trabalhadores terão de ser empregados a fim de que se realize este aumento relativo da força produtiva. Como forma palpável e evidente aparece aqui a diminuição relativa do tempo de trabalho necessário, mas não a diminuição do trabalho empregado na sua forma absoluta, que continua tendo como base o trabalhador vivo e o número de trabalhadores ocupados sob o mesmo espaço. Além disso, a consolidação da manufatura acontece num momento no qual tanto as necessidades, quanto a massa crescente de mercadorias inseridas no intercâmbio, assim como o comércio internacional (em realidade um relativo mercado mundial) expandemse subitamente de maneira prodigiosa. É por isso que encontramos a manufatura em confronto tão somente com o artesanato, mas de modo algum em conflito direto com o trabalho assalariado mesmo que, (no meio urbano) primei~amente no interior deste modo de produção, passe a adquirir uma existência disseminada.

Além disso e sem dúvida, simultaneamente à maquinaria desenvolve-se também a agricultura em larga escala, que funciona de fato como produção mecanizada, dado que tanto a transformação da terra arável em pastagens, como o uso de melhores instrumentos e cavalos, aqui, tanto quanto na maquinaria, faz com que o trabalho passado surja como meio para substituição ou diminuição
do trabalho vivo.

Na maquinaria, ao contrário, em que novos ramos de produção são fundados, não se pode, naturalmente, falar em substituição dos trabalhadores por máquinas. Esta situação de difusão aparece de forma geral assim que a maquinaria se desenvolve, numa época avançada em que repousa o modo de produção, mas no interior do qual aquela produção segue sendo ainda extremamente incipiente, seja em comparação com aquelas mercadorias nas quais o trabalho humano mediante a maquinaria é suplantado, seja do ponto de vista das mercadorias substituídas, que anteriormente eram produzidas sob o simples trabalho manual.

O primeiro caso diz respeito ao emprego da maquinaria naqueles ramos cuja forma anterior de produção era artesanal ou manufatureira. Com isso, a máquina aparece aqui como elemento intrínseco ao modo de produção capitalista, como uma revolução no interior do modo de produção em geral. Assim que a mecanização se institui no interior das oficinas (Ateliers), a finalidade passa a ser o constante aperfeiçoamento da maquinaria, que até este momento não havia ainda subordinado a si setores daquelas, fazendo-o agora por completo, ao mesmo tempo em que faz diminuir o número de trabalhadores ocupados. Da mesma forma, os trabalhos feminino e infantil tomam o lugar do trabalho masculino e, finalmente, numa extensão superior àquela da manufatura (e isto os trabalhadores têm sentido diretamente), a força produtiva de uma mesma quantidade de trabalhadores aumenta e, justamente por isso, é requerida uma diminuição relativa do número de trabalhadores para a produção de uma determinada massa de mercadorias.

Portanto, a fórmula da maquinaria é: não a diminuição relativa dajornada individual de trabalho - jornada esta que é parte necessária da jornada de trabalho mas a redução da quantidade de trabalhadores, isto é, das muitas jornadas paralelas, formadoras de uma jornada coletiva de trabalho, fundamental à constituição da maquinaria. Em outros termos, uma quantidade determinada de trabalhadores é posta para fora do processo de produção e seus postos de trabalho extintos como sendo, ambos, inúteis à produção de maistrabalho. Tudo isso abstraindo da eliminação daquelas especializações surgidas mediante a divisão do trabalho de onde resulta, por conseqüência, uma depreciação da própria capacidade de trabalho.

O trabalho passado juntamente com a circulação social do trabalho são apreendidos como meios de tomar supérfluo o trabalho vivo. Ou seja, a base sobre a qual se desenvolve o mais-trabalho é o tempo de trabalho necessário, apesar de, aqui, buscar-se consolidar justamente o contrário: calcula-se qual o quantum determinado de mais-trabalho é possível obter perante a um quantum
determinado de trabalho necessário.

A oposição entre capital e trabalho assalariado desenvolve-se, assim, até sua plena contradição. É no interior desta que o capital aparece como meio não somente de depreciação da capacidade viva de trabalho, mas também como meio de tomá-la supérflua. Em determinados processos isso ocorre por completo; em outros, esta redução se efetua até que se alcance o menor número possível no interior do conjunto da produção. O trabalho necessário coloca-se, então, imediatamente como população supérflua, como excedente populacional - aquela massa incapaz de gerar mais-trabalho.

Já postos anteriormente como sendo momentos diferenciados, é possível verificar como o capital de fato - contra sua vontade - faz diminuir a massa de mais-trabalho que um capital determinado é capaz de produzir. Atuando como tendência que se movimenta contraditoriamente, ele procura manter baixo o número relativo de trabalhadores efetivamente ocupados e, ao mesmo tempo, elevar o quanto for possível o mais-trabalho absoluto, ou seja, aumentar a jornada
de trabalho absoluta.

Por isso os economistas contemporâneos ao período referente à grande indústria posicionam-se contra aquele preconceito predominante já presente no período manufatureiro, segundo o qual é de interesse do Estado - portanto, da classe capitalista - ocupar o maior número de trabalhadores possível. Pelo contrário, aparece como tarefa obrigatória para a produção de mais-trabalho diminuir (ao invés de aumentar) o quanto for possível a quantidade de trabalhadores e criar, ao mesmo tempo, excedente populacional.

Trata-se para o trabalhador não somente da eliminação da especialização e da depreciação de sua capacidade de trabalho, mas da eliminação mesma desta parte cuja flutuação é constante e pertencente a ele como sendo sua única mercadoria - a eliminação de sua capacidade de trabalho. Capacidade que se coloca como supérflua ante a maquinaria, seja porque cabe a esta última a realização completa de parte do trabalho, seja porque diminui o número de trabalhadores que assistem diretamente à maquinaria. Da mesma forma que isso ocorre, também aqueles trabalhadores vinculados ao modo de produção precedente, na concorrência com a maquinaria, acabam por arruinar-se.

Para os próprios trabalhadores o tempo de trabalho necessário não é mais o socialmente necessário no interior da produção de mercadorias. Seu trabalho de 16-18 horas tem maior valor do que aquele de 6-8 horas levado a efeito com a máquina. Em face do prolongamento do tempo de trabalho, por toda a parte disseminado para além de suas fronteiras normais, e mediante a péssima remuneração que é dada em contrapartida - posto que o valor ali é regulado a partir do valor das mercadorias produzidas sob a maquinaria -, os trabalhadores empreendem uma luta frontal com esta última, até o ponto em que são definitivamente derrotados.

Esta a tendência da maquinaria: por um lado, a constante expulsão de trabalhadores, seja do interior daquela oficina já mecanizada, seja do interior dos ofícios; por outro, sua constante reintegração, posto que a partir de um grau determinado de desenvolvimento da força produtiva, o aumento da mais-valia só se coloca com a elevação simultânea do número de trabalhadores ocupados. Esse movimento de atração e expulsão é característico e representa o constante oscilar da existência do trabalhador.

Nas strikes mostra-se também que as máquinas são empregadas e inventadas em oposição direta às exigências do trabalho vivo, assim como são elas o meio de enfraquecê-lo e dividi-lo (vide Ricardo sobre a oposição permanente entre maquinaria e trabalho vivo).

Aqui, portanto, com maior evidência aparece o estranhamento(3) das condições objetivas do trabalho - do trabalho passado - em oposição ao trabalho vivo como sendo aquela contradição imediata na qual o trabalho passado - e, por conseguinte, as forças sociais gerais do trabalho que compreendem tanto as forças da natureza quanto as da ciência - se apresenta diretamente como uma arma que atira à rua o trabalhador, transformando-o num sujeito supérfluo; que rompe e dilui com sua especialização, sufocando aquelas necessidades nela fundadas, e que submete o trabalhador ao despotismo acabado e organizado da forma de ser da fábrica (Fabrikwesen) e à disciplina militarizada do capital.

Nesta forma aparecem como decisivas - portanto como resultado das forças produtivas sociais do trabalho e do trabalho mesmo tomado enquanto condições sociais de trabalho - estas forças não apenas enquanto estranhas ao trabalhador e pertencentes ao capital, mas como supressoras de cada trabalhador singular, forças hostis que oprimem e julgam em favor do interesse do capitalista. Vimos ao mesmo tempo que o modo de produção capitalista não se modifica formalmente apenas, mas revoluciona a totalidade das condições sociais e tecnológicas do processo de trabalho, e também como o capital não aparece agora somente como aquelas condições materiais do trabalho não pertencentes ao trabalhador - matéria-prima e meios de trabalho -, mas como ele se apresenta como a essência das formas e potências sociais do trabalho em geral, contraposta a cada trabalhador tomado isoladamente.

Aqui o trabalho passado também se apresenta - tanto na maquinaria automatizada quanto naquela posta em movimento por ele - visivelmente como independente do trabalho enquanto auto-atividade (selbsttiitig): ao invés de ser subordinado por este último, o trabalho passado é que o subordina a si. Trata-se do homem de ferro contra o homem de carne e osso. A subsunção de seu trabalho ao capital- a absorção de seu trabalho pelo capital-, que está no cerne da produção capitalista, surge aqui como um fator tecnológico. A pedra fundamental está posta: o trabalho morto no movimento dotado de inteligência e o vivo existindo apenas como um de seus órgãos conscientes. A conexão viva do corpo da oficina não se funda mais na cooperação, mas sim no sistema de máquinas que forma agora, a partir do movimento de um motor primário e do abarcamento da totalidade das oficinas, a unidade ampla à qual estas últimas, ao continuarem sendo compostas por trabalhadores, mantêm-se subordinadas. A unidade da maquinaria alcança assim, evidentemente, forma independente e plena autonomia com relação aos trabalhadores, ao mesmo tempo que se coloca em oposição a eles(4).

A oficina que se apóia na maquinaria expulsa continuamente o trabalhador enquanto elemento necessário, ao mesmo tempo que real oca estes trabalhadores repelidos em funções da própria maquinaria. Se, por exemplo, de um total de cinqüenta trabalhadores, quarenta são postos para fora, nada se opõe inteiramente a que, neste momento, sobre a base de uma nova fase da produção, estes quarenta trabalhadores sejam novamente integrados. Esta é uma discussão que não pode ser levada adiante neste espaço, mas se constitui num tópico que precisa ser examinado mais de perto: as relações entre os capitais constante e variável.

O estranho receio dos economistas em demonstrar que sobre o emprego da maquinaria repousa, ao longo do tempo, a grande indústria e que esta absorve de forma sempre renovada excedentes de população, é ridículo. Em primeiro lugar, deve ficar claro que a maquinaria é boa porque poupa trabalho, e é então novamente boa porque não o poupa senão tomando necessário num ponto o trabalho manual que ela substitui em outro. Não é através da maquinaria, particularmente, mas na própria seqüência do processo mecanizado, que os trabalhos auxiliares se fazem necessários. Para consolo dos trabalhadores, a economia burguesa reporta-se ao trabalho auxiliar como uma forma disfarçada de supressão do trabalho estafante, enquanto, de fato, ao lado dos trabalhos antigos, a maquinaria apenas cria novas formas deste trabalho árduo. Ou como continua a se tratar de trabalhadores ocupados no interior da oficina já mecanizada - apesar da maquinaria e apesar de mediante a mesma aumentar o esgotamento de cada trabalhador isolado -, o número de condenados a este trabalho estafante se eleva. De resto, não é este o lugar para aprofundar a questão, dado que ela toma como pressuposto a reflexão sobre o movimento real do capital, reflexão esta que aqui não é possível desenvolver. Todavia, os exemplos mencionados há pouco ilustram muito bem como a maquinaria é capaz de operar em ambos os sentidos. Não cabe também estender-se sobre o fato de que junto à agricultura deve predominar a tendência em formar-se um excedente populacional, não apenas temporário, mas em termos absolutos.

Com a maquinaria - e com a oficina mecanizada nela fundada – consolida--se a predominância do trabalho passado sobre o trabalho vivo, não apenas do ponto de vista social, expresso na relação entre capitalista e trabalhador, mas também como sendo uma verdade tecnológica.

Poder-se-ia perguntar como é possível que de forma geral o emprego da maquinaria - abstraído da liberação do capital e do trabalho - possa criar de imediato um novo e mais difundido trabalho (tomado do início ao fim no seu processo como um todo, seja ele diretamente realizado a partir da máquina, seja aquele que a tenha por pressuposto), que tem de ser menor do que a massa de trabalho contida nas mercadorias anteriormente produzidas sem a maquinaria.

Ainda que, por exemplo, o quantum de trabalho contido numa vara de linho feita sob a maquinaria seja menor do que o quantum dispendido fora dela, não segue daí que, se agora a maquinaria produz mil varas de linho onde antes era produzida uma única, o trabalho não tenha aumentado - no que tange ao cultivo do linho, ao transporte e à totalidade dos trabalhos intermediários. Seu aumento não diz respeito à quantidade de trabalho contida numa só vara de linho, mas (e independentemente do tecido mesmo) à maior quantidade de trabalho preliminar requerido pelas mil varas de linho, seja junto ao próprio trabalho preliminar, seja junto à circulação (transporte) na diferença que uma só vara de linho requer. Cada vara de linho toma-se mais barata sob o trabalho à máquina, ainda que mil delas ponham em movimento mil vezes mais trabalho auxiliar do que antes poria uma única.


Notas:

1. Extraído de "Zur Kritik der Politischen Okonomie (Manuskript 1861-1863)", MEGA, 11, 3.6, Berlim, 1982, pp. 2053-59. Traduzido do original alemão por Jesus 1. Ranieri. Os Manuscritos de 1861-63 (compostos por 23 cadernos) representam o momento de passagem entre os Grulldrisse e O Capital, sendo parte importante do material preparatório deste último. O presente fragmento encontra-se no interior da seqüência denominada "A mais-valia relativa - acumulação", referente ao caderno XX, redigido entre março e maio de 1863.

2. Vertemos o tenno Arbeitsvermogens por "capacidade de trabalho" em vez de força de trabalho (Arbeitskraft) dada a especificidade de seu uso no texto: designa a capacidade incipiente de realização de trabalho por meio do trabalho vivo, ou seja, salienta a fonna originária de apropriação e transfonnação da capacidade viva de trabalho pela maquinaria..

3. A tradução de Entfremdung para estranhamento e não para alienação (Entiiusserung) deve-se à diferença conceitual entre ambos: enquanto a segunda forma remete à exteriorização como fenômeno ineliminável do ser humano, fenômeno que particulariza o ser no ato e na ação de sua sociabilidade através das objetivações presentes no trabalho, o primeiro é designação específica para as insuficiências de realização do gênero, aqueles obstáculos sociais que fogem ao controle do homem porque estão em confronto direto com o alcance de sua realização, especialmente porque a história do desenvolvimento do ser social não logrou conquistar os meios para sua autodeterminação. Neste sentido, historicamente as alienações têm aparecido, por assim dizer,
de forma estranhada. (A respeito ver Manuscritos Econômico-Filosóficos, especialmente a parte final do primeiro manuscrito, e as três primeiras partes do terceiro.)

4. Neste ponto, Marx abre um parágrafo sobre reflexões futuras que deverão ser levadas a efeito ainda no interior do próprio manuscrito: uma introdução acerca da contribuição de Andrew Ure (provavelmente o livro The Philosophy of Mal!ufactures) e das ciências sob a perspectiva até agora discutida. O conteúdo da nota não passa de um lembrete que dá curso à disciplina do autor: "Es sind jezt noch anzuführen theils die betreffenden Stellen aus Ure etc, theils einiges über die Wissenschaft und die Naturkrafte".



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