quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Márcia Junges

A superstição nasce do medo, enquanto a religião é um confiar. Wittgenstein e a religião.


Mesmo declarando-se uma pessoa não religiosa, Ludwig Wittgenstein (1889-1951) era um filósofo que respeitava imensamente a religião. A ideia foi desenvolvida pelo filósofo Prof. Dr. Luigi Perissinotto, da Università Ca´ Foscari di Venezia, Itália, em sua conferência Wittgenstein e a religião - A crença religiosa e o milagre entre fé e religião, na tarde desta terça-feira, 15 de setembro, no X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades. Na edição 308 da revista IHU On-Line, de 14-09-2009, concedeu a entrevista O silêncio e a experiência do inefável em Wittgenstein.

Influenciado pelas obras de Kant, Lessing, Kierkegaard, James e Schopenhauer, deste sobretudo O mundo como vontade e representação, Wittgenstein é o tipo de autor no qual biografia e filosofia estão muitíssimo imiscuídas, acentuou Perissinotto. Não que se possa falar de uma filosofia da religião em Wittgenstein, mas a religião está constantemente presente em sua filosofia. “Ele não é um filósofo da religião no sentido tradicional do termo”, esclareceu. Enquanto combatia no front russo, na Primeira Guerra Mundial, Wittgenstein conhece a obra de Tolstoi, que o impressiona sobremaneira por seu cunho religioso.

Para o filósofo austríaco, a fé religiosa e a superstição são completamente diferentes. A superstição nasce do medo, enquanto que a religião é um confiar. De acordo com Perissinotto, tal afirmativa só poderia ser feita por alguém que compreende de modo profundo o que a religião significa. “Wittgenstein jamais qualificou a religião como ridícula”, pontuou. Não é a linguagem religiosa que é insensata para esse autor, mas é ele que admite não conseguir dar-lhe um sentido.

Sobre a questão do “primeiro” e “segundo” Wittgenstein, o professor italiano acentuou que, se tomarmos em consideração o ponto de vista do tema “milagre” em seus escritos, podemos falar em apenas “um” Wittgenstein. As características principais que perpassam a obra desse pensador, analisa Perissinotto, podem ser apontadas como o antidogmatismo e o anti-reducionismo.

Sobre o milagre e seu significado religioso, Perissinotto mencionou que Wittgenstein conclui que nenhum testemunho humano pode provar o milagre como fundamento de um sistema de religião. Para a ciência, não há milagre absoluto, assim como para Wittgenstein. Contudo, a fé infinita no saber recebe, igualmente, vários dardos do autor do Tractatus Logico-Philosophicus, que acreditava que o homem ainda poderia se encantar com o mundo.

A respeito da questão de Deus e o silêncio na obra desse autor, Perissinotto menciona: “O que Wittgenstein gostaria de fazer-se reconhecer não é que haja algo que não se pode dizer, algo que excede e ultrapassa infinitamente a expressividade de qualquer língua (entendê-lo equivaleria a deificá-lo: o inefável seria então uma supercoisa, mas em suma sempre uma coisa), quanto, ao contrário, que no final, uma vez que se disse tudo o que se pode dizer, não há propriamente mais nada a dizer”.

Perissinotto é graduado em Filosofia pela Universidade Cá Foscari de Veneza. Doutor de Pesquisa em Filosofia, foi primeiro pesquisador de Filosofia Teorética e depois professor associado, sempre no setor científico-disciplinar de Filosofia Teorética junto ao Departamento de Filosofia e Teoria das Ciências da Universidade Cá Foscari de Veneza. Atualmente é professor ordinário de Filosofia da Linguagem e Filosofia da Comunicação. É membro da Sociedade Filosófica Italiana, da Sociedade Italiana de Filosofia Analítica e da Wittgenstein Gesellschaft (Áustria). É redator da revista Filosofia e Teologia e diretor da Máster de II nível em Consulta Filosófica. Sua atividade de pesquisa se concentrou sobre dois temas fundamentais, os quais têm como ponto de referência comum a questão filosófica da linguagem e o problema do nexo linguagem-interpretação.

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Fonte: UNISINOS


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