sexta-feira, 2 de julho de 2010

Simonetta Fiori

''Marx deve ser relido''



Marx foi dado por morto mais de uma vez, mas não é possível enterrá-lo. A literatura sobre ele conhece um feliz renascimento, entre ensaios, re-edição de textos, novas biografias como a de Nicolao Merker.Quem o repropôs nesta terça-feira – no Teatro Parenti de Milão, para a apresentação de um mestrado em Economia e Política da Universidade San Raffaele – foi Massimo Cacciari (foto), frequentador das suas obras desde os distantes tempos do "operarismo". A reportagem é de Simonetta Fiori, publicada no jornal La Repubblica, 30-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS



"O Marx ainda capaz de falar a nós não é nem o profeta político, nem o intelectual ideológico. É, pelo contrário, o analista do destino do capitalismo, entendido como um formidável sistema social e cultural que produz um impulso desmedido para a criação de novas necessidades".

Ao sugerir essa definição, Cacciari explica duas coisas distintas. Primeiro, a razão da escolha de Marx, economista e filósofo da história, para apresentar um novo mestrado de economia, que, pela primeira vez na Itália, é aberto só aos laureados das faculdades humanísticas (dirigido por Angelo Panebianco, participam também Michele Salvati e Alberto Martinelli).

Em segundo lugar, no "verdadeiro Marx" escolhido por Cacciari está subentendida uma polêmica com uma interpretação da economia como "ciência da natureza", ideia difundida principalmente depois da implosão dos regimes do "socialismo realizado", que diziam se inspirar no marxismo. "O busto de Marx acabou injustamente no sótão, e afirmou-se um modelo de economia como ciência da natureza, como se a crítica marxiana nunca tivesse existido. Quem não compreende a natureza social do capitalismo e, assim, reduz a economia a "ratio" contabilística, vai ao encontro de êxitos falimentares".

Crê-se ilusoriamente que a crise financeira é uma patologia do capitalismo, enquanto ela pertence à sua fisiologia. "O ciclo econômico capitalista envolve sujeitos sociais sempre diferentes – o sujeito que dispõe dos meios financeiros, aquele que trabalha com as máquinas, o consumidor –, e é portanto impossível prever sua harmonização. Isso faz com que a crise seja imanente em todos os momentos do ciclo: ela é sempre aberta".

O Marx que Cacciari recupera não é tanto o do "Capital", mas sim o autor dos "Lineamentos fundamentais da crítica da economia política", "lá onde ele vê o mecanismo da valorização do valor, ou seja, a criação do lucro, não tanto na mais valia, mas sim na potência do cérebro social, na ciência e na técnica, ou seja, na capacidade da organização capitalista de criar ininterruptamente novas necessidades".

Mas o que Marx diria aos operários de Pomigliano? A resposta de Cacciari parece ser muito distante dos tempos da revista Classe Operária. "Hoje, ele invocaria desencanto e realismo, como no discurso pronunciado em 1871 aos operários de Paris. É preciso saber aceitar a derrota e conduzir com inteligência a retirada, de modo a não transformá-la em uma fuga. Porém, não me parece que sejam muitos os que estão ouvindo a lição".

PARA LER MAIS
Revista IHU On-Line - A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx ; O pensamento de Karl Marx e sua anti-filosofia ; Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem

Transparência Brasil

Projeto Ficha Limpa

Acervo CULT

Acervo CULT
A revista CULT acaba de digitalizar o conteúdo integral dos DOSSIÊS publicados mensalmente, desde 1997, que se tornaram fonte de pesquisa não apenas para estudantes e professores, mas também para aqueles interessados na obra e na biografia das grandes figuras do pensamento ocidental. CULT é reconhecida por trazer textos exclusivos, produzidos pelos maiores especialistas nacionais. Caso encontre dificuldades, enviar uma mensagem para site@revistacult.com.br.

Quem sou eu

Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Powered By Blogger