segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Falar ou calar sobre Deus? A relação linguagem-teologia

"Sobre aquilo de que não se pode falar deve-se calar", disse Wittgenstein em seu "Tractatus". No prefácio, porém, dissera que "tudo aquilo que pode ser dito pode ser dito claramente". E quando esse "aquilo" é Deus? Como falar sobre Deus frente aos limites da linguagem?
Fonte: UNISINOS



A partir do pensamento de Wittgenstein, o Prof. Dr. Luigi Perissinotto, da Universidade Ca' Foscari de Veneza, na Itália, irá contribuir com os debates do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades, que ocorre na Unisinos entre os dias 14 a 17 de setembro de 2009. Organizado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, o Simpósio conta com a parceria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio e do Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil.
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Perissinotto estará presente na Unisinos no dia 15 de setembro, para ministrar a conferência "As narrativas de Deus e as questões de linguagem a partir de Wittgenstein", das 14h30min às 16h30min.

Formado em filosofia pela Universidade Ca' Foscari de Veneza, é doutor na mesma área pela Universidade Estatal de Milão. De 1992 a 2002, foi pesquisador e professor associado do Departamento de Filosofia e Teoria das Ciência da Universidade Ca' Foscari de Veneza. Atualmente, é professor de Filosofia da Linguagem na mesma instituição. É também membro da Sociedade Filosófica Italiana e da Austrian Ludwig Wittgenstein Society, na Áustria. É redator da revista "Filosofia e Teologia".

Em seu livro "Wittgenstein. Una guida" (Feltrinelli 1997), sem tradução para o português, o filósofo italiano comenta algumas ideias do filósofo austríaco a respeito da relação linguagem-metafísica, como quando Wittgenstein afirma que o método correto da filosofia seria "nada dizer senão aquilo que pode ser dito [...], e, toda vez que alguém quiser dizer algo metafísico, mostrar-lhe que, em certos sinais nas suas proposições, não deu significado algum". Eis aí, segundo Perissinotto, "o limite em que a filosofia é convidada a calar".

Por outro lado, o autor de "Tractatus", segundo Perissinotto, apresenta grandes questionamentos e desafios para as narrativas teológicas hoje. Como quando o autor defende que todas as conjecturas e previsões que formulamos sobre aquilo que ocorrerá ou que virá estão embasadas na "lei mais simples que pode ser lembrada com as nossas experiências": ou seja, tentamos "'guiar os eventos do mundo', fazer com que ocorra aquilo que desejamos, e que não ocorra aquilo que tememos". Essa "radical acidentalidade de tudo aquilo que ocorre" do filósofo austríaco, segundo Perissinotto, traz, por sua vez, o aspecto ético do pensamento de Wittgenstein, para quem, afirma o autor italiano, uma vida feliz e justa é aquela "de quem vive em harmonia com o mundo". Ou, nas palavras teologicamente questionadoras do filósofo austríaco, a vida de "quem não precisa mais de um fim fora da vida".

E aqui talvez esteja uma das ideias centrais de Wittgenstein em diálogo com a noção de Deus: como pode o homem ser feliz se não pode ficar longe da miséria deste mundo? Para ele, a vida feliz, boa e justa é a vida que pode renunciar aos prazeres do mundo. E, por isso, Wittgenstein não oferece um convite a fugir do mundo nem a condenar a vida, afirma Perissinotto.

Quanto à linguagem, Wittgenstein afirma: "A filosofia se limita a colocar tudo diante de nós e não explica e nem deduz nada. Como tudo está ali à mostra, não há nada a ser explicado. Aquilo que está escondido não nos interessa". Para ele, afirma Perissinotto, "o erro mais grave da filosofia consiste em buscar uma explicação", pois isso seria cair em um "jogo linguístico". Na realidade, para Wittgenstein, pede-se que a filosofia compreenda e penetre na operação "da nossa linguagem, não de uma linguagem 'ideal' qualquer".

Nesse sentido – e aqui a relação direta com as imagens de Deus que construímos –, o que impede o reconhecimento das operações da nossa linguagem, segundo Wittgenstein, "é a força por meio da qual algumas imagens, incorporadas e inscritas na própria linguagem, tendem a nos seduzir e a nos desviar".

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